Pesquisar

terça-feira, 29 de junho de 2010

A FÁBRICA DE VELAS - CENAS 3 E 4

CENA 3

Segunda-feira, 14 de junho de 2010.

Manhã, 07:00h. Tempo nublado, 15º.

Carro de Daniel, um Nissan Sentra 2010, preto. Ele está levando Margareth para a faculdade, ela cursa administração. Está no segundo ano.

Margareth – Você estava estranho ontem quando seu irmão chegou. Algum problema com vocês dois?

Daniel – Não...

(silêncio)

Margareth – Se houver algo, pode me falar, Daniel.

(silêncio)

Margareth (deitando a mão sobre o ombro de Daniel) – Saiba que eu estou com você. [...] Te amo.

(Daniel faz um leve movimento com os olhos como se o “te amo” de Margareth o espantasse)

Daniel – Ás vezes um pensamento vem à toa na minha cabeça... [...] Margareth... Tantos rapazes por ai mais novos, mais responsáveis... O que te fez se interessar por mim? Olhe pra mim! Dez anos de diferença nas nossas idades, ocupadíssimo com o trabalho, tenho a impressão de não lhe dar a atenção necessária.

Margareth – Acho que gostar de alguém é algo que às vezes não tem muita explicação, e não acho que seu tempo é insuficiente pra mim. Você se esforçou muito pra ser economista, respeito a necessidade de dedicação ao seu trabalho. Eu estou feliz com você.

(Daniel exibe um olhar aflito, morde os lábios)

Margareth – Dan, eu sei que você precisa me contar algo. Diga!

(Já chegam na faculdade, Daniel freia o carro próximo à entrada)

Daniel – Na verdade... Há algo [...] Margareth... Nesse momento, uma tonelada de coisas cai sobre minha cabeça, arrependimento, agonia, nervosismo... Margareth [...]

Margareth – Estou ouvindo...

Daniel – Você é uma amante!

Margareth – Desculpe?

Daniel – Amante, Margareth! Você é minha amante! Eu tenho uma relação mais a fundo com outra mulher...

Margareth (aflita) – Daniel... Você disse que namorava com uma moça e que havia terminado com ela quando nós...

Daniel (choramingando) – A Giovanna, sim! Foram problemas... Eu estava muito abatido, me senti desprezado... Você era uma grande amiga... Eu... Me entreguei... E... Nós voltamos há quase cinco meses!

Margareth (com raiva) – Daniel, seu cafajeste! Você me usou?

(Daniel está muito agoniado e choraminga)

Margareth continua (Irônica) – Oh! Pobre Daniel! Precisava de alguém na cama pra amenizar seu sofrimento! Trai a mulher! Já ouvi muito da Giovanna, devem estar quase noivos! Ele não hesita... Põe um par de chifres na moça! Constrói uma grande rede de mentiras! Não sei quem mais se machuca nessa história. Uma moça responsável que merece muito mais do que o homem que tem... Ou a pobre garotinha de dezenove anos... Usada, fortemente enganada! Quantas pessoas você pagou pra não deixarem escapar nada sobre seus relacionamentos? Bandido! Sabe-se lá quantas mais 40 mulheres você se encontra! Cretino!

Margareth enche a mão e acerta um tapa no rosto de Daniel, sai do carro e vai embora, Daniel chora agoniado por tudo.

Um carro buzina logo atrás, o homem pede para Daniel se mover, e tem seu pedido realizado. Daniel dirige em direção ao trabalho, com aspecto choroso, olha com freqüência os retrovisores desejando ver Margareth ainda por ali por algum motivo.

Mais à frente, Daniel quase atropela alguém, freou bruscamente o carro, não estava concentrado no trânsito, o quase vitimado é Filipp Genden, amigo de Daniel, Chefe de Produção da fábrica. Filipp se assustou, mas tenta acalmar o susto das pessoas ao redor:

Filipp – Opa, gente! Podem sossegar, é amigo meu! Deve ter sido uma brincadeirinha de mau gosto! Hehe...

Filipp se dirige ao carro de Daniel e entra. Daniel volta a dirigir e acena para o pessoal com um sorrisinho em concordância a Fillipp.

Filipp (com uma voz rígida) – Ow, rapaz! Você bebeu antes de vir para o trabalho? Á propósito... Meu carro está na oficina, agradeço!

Daniel – Você é amigo. Beber não bebi... Mas me bateu a vontade...

Filipp – E que cara de derrubado é essa? Lágrimas? Ihh... Você? Desse jeito? O que houve? Algo com a Giovanna?

Daniel – Não, ao menos por enquanto... Mas quero que esse “por enquanto” não exista mesmo...

Filipp – O que foi? Você foi demitido?

Filipp ri expressando a impossibilidade de tal situação.

Daniel – Bem que eu preferiria a demissão! Filipp, meu caro... A maior porcaria que eu poderia fazer na minha vida, feita está!

Filipp – Ham...

Daniel – Eu traía a Giovanna, e agora a pouco acabo de ter desfeito as coisas com a amante.

Filipp (grita) – Mas o quê? Você traía a Giovanna? Quantas você bebeu no dia que começou isso? Sabe quantos caras por ai tem atração pela... SUA MULHER!

Daniel (fala com um tom que deseja que Filipp pare de gritar) – Eu sei disso, tá legal? Droga, cara! Isso foi naquele tempo que ficamos brigados... Que fiquei abatido... Você sabe como foi!

Filipp – Sei até a parte que não havia outra mulher no desfecho. Você devia ter me dito, Daniel. Eu lhe dizia que tinha fé que você e a Giovanna iam voltar... Não ia deixar você se envolver com essa qualquer ai... A Giovanna é o tipo de mulher que você precisa e poxa... Digna de se construir uma família! Mas, me diga uma coisa... Essa sua amante sabia da sua relação? Se sim, rapaz, há tempos não ouço falar de uma mulher safada destas, não nesta cidade.

Daniel – Não... É a partir dessa vista que as coisas pioram...

CENA 4

Chegam à fábrica. Continuam a conversa enquanto saem do carro e ainda circulam um pouco lá dentro.

Daniel – E ela matou tudo no dito. Deixei-a na faculdade quando me assumi. Ela gritou comigo no carro que vinha sendo enganada, usada, já ouviu falar da Giovanna e a respeita... Ela tem razão, eu fiz uma grande rede de mentiras entre as duas. Vários funcionários aqui que já me viram com ambas, tenho entregue uma certa quantia pra manter suas bocas fechadas.

Filipp para, Daniel segue uns passos e se vira. Filipp o observa com uma feição enojada do amigo.

Daniel – O quê? Vai gritar comigo aqui? Me dar um tapa no rosto também? Qualquer coisa que você fizer agora eu já tô esperando, amigo! Mereço!

Filipp – Aqui não...

Estão na porta da sala de Daniel, que já a destrancara, após terem subido uma escadaria. Filipp o pega pelo braço e o põe pra dentro. Fecha a porta.

Filipp (rígido) – Daniel Atson... Um cara que é um dos meus melhores amigos desde a terceira série do infantil... Nunca imaginei que pudesse fazer uma coisa dessa... Você é um idiota mesmo. Vem cá... Seu irmão sabe disso?

Daniel – Não sabia até ontem, nos viu no Sir. Spettus!

Filipp – Eu não abriria a boca porque você disse que já desfez as coisas com a...

Daniel – Margareth...

Filipp – Que seja! Margareth?! É o nome da minha sobrinha (risinho), bem, mas você não é pedófilo! Enfim! Eu não abriria a boca como eu já disse... Mas seu irmão? Do jeito que ele respeita a Giovanna... Você tá ferrado!

Daniel – Não, não tô! Já conversei com ele, e disse que ia desfazer as coisas com a Margareth...

Filipp – Hm... Espera um pouco, você estava no Sr. Spettus com essa Margareth ontem?

Daniel – E o que tem? Você não gosta da comida de lá?

Louis Won, o dono da fábrica, entra na sala. É um indivíduo de uns 55 anos, mas não aparenta, é bem conservado.

Louis (irritado) – Daniel, na minha sala, imediatamente!

Sai e fecha a porta. Daniel se levanta e se prepara para ir à sala do Sr. Won, está nervoso com a irritação do homem.

Daniel – Hein? Ah, Filipp, não esqueça de me falar sobre o Sr. Spettus e ontem!

Daniel sai da sala

Filipp (mordendo os dedos) – Já vai saber, meu caro!

Na sala do Sr. Won, Daniel entra.

Louis – Sente-se, por favor.

Daniel – Ah... Senhor, me assustou! O que houve?

Louis (irritado) – Eu é que pergunto, Daniel! O que houve com você ontem?

Daniel fica apreensivo

Louis continua – O jantar de negócios ontem com a diretora da Beiera no A Última Ceia! Me deixou no vácuo sem os seus malditos papéis de análise dos investimentos que você ficou de organizar pra levar!

Daniel – Ah... Oh... Minha nossa... Sei que é difícil lhe pedir desculpas, senhor! Mas... Eu tive um problema de saúde, passei o dia em casa dormindo por isso... Passei mal com um jantar pesado no sábado, aniversário de um primo...

Louis – Você é responsável, sei que daria um jeito de enviar os documentos, nem que fosse por e-mail. Enfim, sem mais desculpas. Foi difícil sem os papéis, mas ao menos consegui fechar um acordo.

Daniel – Então... Conseguimos? Err... O senhor consegui? Err... Certo então... E...

Louis – Volte para sua sala! E o mínimo vacilo seu será catastrófico, para a fábrica inteira!

Daniel – Ow, sim senhor!

Daniel levanta-se e sai da sala.

Nenhum comentário:

Postar um comentário